domingo, 6 de setembro de 2009

Bate papo


- Tathi, Bianca, Fernando? Vocês ainda estão aqui. Que bom! Ué, mas e essa, quem é?
- Ah, é a Bruninha. Ganhei ano passado.
- Você ainda brinca com elas?
- Não, mas gosto de tê-las por perto. Quando eu estou triste gosto de saber que elas estão aqui.
- Ah, tá. E essas três na foto? Não me diga que são...
- São elas mesmas. Juliana, Luana e Patrícia. Elas ainda são minhas melhores amigas, ué.
- Elas tão diferentes. Aliás, você também. O cabelo tá mais escuro. Pintou?
- Não. Foi escurecendo com o tempo. Mas o olho continua da mesma cor. Lembra que a gente tinha medo que mudasse de cor?
- É verdade. Ainda perguntam se você quer trocar de olho?
- Não, já pararam com essa brincadeira há muito tempo. Ah, também não me chamam mais de Xuxinha e não cantam mais “loira burra” pra mim.
- Ainda bem, era muito chato isso. Por falar nisso. Esse negócio aqui é um diploma?
- É sim. E adivinha? Sou jornalista!
- Nem acredito. Nosso maior sonho. O primeiro da lista. Lembrei agora. E a natação?
- Não faço mais natação faz anos. Comecei a fazer street dance e depois que sai, não fiz mais nenhuma atividade assim.
- Vai ficar gorda assim. (risos). E nosso aniversário? Tá chegando! Vai tocar músicas da Xuxa, não vai?
- Da Xuxa? Não mesmo. Mas ainda tem o bolo de chocolate da vovó e muito brigadeiro.
- Não vai ter Xuxa? A gente vai dançar o que então?
- Funk. Mas fica tranqüila, eu ainda sei cantar o "Abecedário da Xuxa" e "Lua de cristal" ainda é uma das minhas favoritas.
- Funk. A gente não gostava disso. Só do Claudinho e Bochecha...
- Mas agora a gente gosta. Eu vou a bailes funk. Vou também à escolas de samba e muitas vezes ao Maracanã.
- Você se diverte nesses lugares?
- Bastante.
- Se você diz, então tá. É o que importa. Mas se você gosta de funk, não deve mais gostar daquela nossa música...
- Qual? Ah, já sei. A do papagaio louro? Claro que sim. E de tanto cantá-la, acabei tomando gosto por escrever cartas. E lembra quando passávamos pelo Valqueire aos domingos e lembrávamos daquela outra musiquinha? Ainda faço isso.
- E seu filme preferido, qual é?
- Não se lembra mais, é? Eu posso ter crescido, mas não dá pra roubar o lugar de “Esqueceram de mim”. Tá pensando o que de mim. Que eu mudei tanto assim?
- Pensei que sim. Mas pelo visto muita coisa continua igual. Você está descalça e tem um pote cheio de jujubas e outro com trakinas de chocolate. Parece que muita coisa ainda continua igual.
- Tem coisas que não mudam com a idade.
- Que bom. Posso te pedir uma coisa antes de ir?
- Claro. Peça.
- Lembra da listinha dos nossos sonhos? Ainda faltam dois. Promete que os realiza pra mim?
- Prometo que vou fazer o possível.
- Brigada. Agora tenho que ir. Já é tarde.
- Espera. Tenho que te contar uma coisa. Descobri que anjos da guarda existem de verdade.
- E eles são mesmo gordinhos e têm asas?
- Não, não. Eles são de carne e osso e aparecem em forma de melhor amigo.
- Você não tem um melhor amigo. Só melhor amiga.
- Agora tenho. E ele é meu anjo da guarda. A gente devia ter descoberto isso há mais tempo.
- Agora tenho que ir mesmo. Tô com sono.
- Uma última coisa. Você está indo pra onde? Onde você mora?
- Tem certeza que não sabe...

E com um sorrisinho no rosto e os pés descalços, ela se foi. Devia mesmo estar com sono, pois mexia na orelha. Ela sempre faz isso quando está com sono.
Depois disso acordei. Sorri e virei para o outro lado. Tinha descoberto onde a Camila criança morava. Mexi na orelha, estava com sono, já era muito tarde.