quarta-feira, 8 de julho de 2009

Maldita mãozinha


Vai dizer que você nunca fez uma aposta consigo mesmo? Se muita gente responder que não, vou ter a certeza de que sou doida, mas acredito que a maioria das pessoas já fez isso.
Pois bem, como faço isso o tempo todo, a cada dia tenho um desafio novo pra mim. No entanto, tem um que se repete toda vez que preciso atravessar as quatro pistas da Avenida Presidente Vargas: ir de um lado ao outro antes da “mãozinha” aparecer. Isso mesmo. Sabe aquela mão em vermelho que aparece para avisar aos pedestres que o sinal vai fechar? Ela me deixa completamente doida. Eu nunca consegui chegar ao outro lado antes que ela começasse a piscar.
Coisa de maluco? Talvez. Só sei que eu levo muito a sério essa minha disputa com a maldita mãozinha. Passei um ano tendo que atravessar a Presidente Vargas pra chegar ao estágio e durante todo esse tempo ela parecia me desafiar.
Era o sinal ficar vermelho pra minha competição começar. O bonequinho verde amistoso aparecia e lá ia eu, concentrada no momento em que ele sairia de cena dando lugar a minha inimiga: a mãozinha. Eu não pensava em outra coisa toda vez que subia as escadas do metrô da Uruguaiana: hoje eu chego ao outro lado antes. Mas nunca consegui.
Minha necessidade de ganhar aquela disputa era tamanha que por vezes eu cheguei a dar uma corridinha. Mas havia muitos obstáculos no meu caminho. E nem eram pedras (antes fosse), eram pessoas mesmo. Sei que provavelmente ninguém ali tinha o mesmo objetivo que eu, mas todos, assim como eu, queriam de uma vez atravessar todas as pistas. E era isso o que me atrapalhava.
Como eu queria fazer todos sumirem dali e, por pelo menos uma vez, me deixarem atravessar sozinha. Ahhh, eu mostraria pra mãozinha que eu era mais rápida que ela. Ahhh, eu mostraria. Mas o contrário acontecia. Todos os dias, de segunda a sexta, sob chuva ou sol, véspera de feriado ou dia comum, estavam todos lá, me atrapalhando, ajudando-a a me vencer.
Confesso que em algumas ocasiões tentei trapacear. Meu plano era simples e na maioria das vezes infalível: eu descia da calçada com os carros ainda passando e quando o semáforo autorizava minha passagem, eu já estava alguns passoa à frente. Mas todas as vezes que cheguei ao outra lado desta forma, uma voz na minha cabeça me dizia “não valeu”. Houve vezes também que jogando limpo fiquei muito próxima da “vitória”, mas quando finalmente eu ia colocar o pé no meio-fio, lá vinha ela, debochada como sempre, piscando sem parar e parecia me dizer “eu sou mais rápida, otária”.
Sei que um ano se passou e eu não a venci. Nem sei se um dia eu vou conseguir. Na verdade não sei nem porque essas “derrotas” me incomodam tanto. Só sei que me sinto presa, parece que tiram meu direito de ir e vir, que aquela mãozinha piscando parece, na verdade, rir de mim.Mas deixo aqui registrado aqui, caso algum dia vocês virem uma pessoa comemorando na calçada da Avenida Presidente Vargas, é bem possível que seja eu, finalmente vitoriosa e satisfeita por ter vencido a maldita mãozinha.

3 comentários:

  1. Uma de suas melhores, mto original otimo kkk!

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  2. ahahahahahhahaha
    jura que você faz isso mesmo?
    tem um texto do antônio prata que fala sobre essas apostas...acho que é no livro "as pernas de tia corália"..ele é muito bom tb! remcomendo!
    adorei seu texto...ri sozinha!!uhauha
    bju!!

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